domingo, 27 de janeiro de 2013

tardes primaveris


se ingenuamente naquela idade
corroendo-nos nas águas ardentes
e tanto ardendo-nos nas transparentes
nós explodimos de felicidade

se incendiamos nas noites febris
escaldando-nos de tantas maneiras
se derretemos cidades inteiras
não nos incinerando por um triz

muito além das tardes primaveris
apagadas certamente em teu corpo
uma semente habita algum lugar

adormecida numa cicatriz
a espera de uma hipótese de fogo
pra das cinzas novamente brotar

quinta-feira, 3 de maio de 2012

norma curta


quan'eu queru,
cê num qué.
si ocê qué,
cê isqueci.
si eu isqueçu,
cê mi curpa.
vê si t'incurta,
norma curta!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

toda vez que lento o tempo passa, perece uma lesma lerda; mas se passa depressa, tudo parece a mesma merda.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

simplesmente

só queria que você soubesse
que é mentira que eu queria que você somente soubesse


o que acontece é que simplesmente
eu te amo transbordantemente


e de repente a gente sente
que quase tudo rima com tente
repelente
água quente
dor de dente


mas a tentativa anda descontente
se contentando em parecer ausente
e a vida vai acostumando
e acostumando a vida vai seguindo em frente

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

2030

Há 20 anos atrás, nós pensávamos que sabíamos exatamente como seria o futuro.

Escolhíamos diversos profissionais que tinham o único trabalho de adivinhar como seria o mundo de hoje.

Mas, em algum momento dessa trajetória, nós erramos.

Lá pelos anos 2000, fomos bombardeados com constantes ameaças sobre o fim dos tempos provocado principalmente por alterações climáticas.

Aqui em 2030, a temperatura não aumentou consideravelmente, as geleiras não derreteram e os ursos polares permanecem hibernando tranquilamente.

A emissão de gases carbônicos se manteve a níveis regulares e o efeito estufa foi contido.

Parece que o ser humano finalmente encontrou formas de combater o que parecia ser o mal do século.

Mas..

Se eu pudesse olhar para trás, teria alertado para um perigo que acabou provando ser muito maior do que pensávamos.

Era tão óbvio.

As escolas pregavam que todos eram especiais e toda a revolução, principalmente digital, apontava para o fim do mercado de massa.

O avanço musical fez com que as canções ficassem quase individuais: Os tocadores de MP3 eram praticamente uma identidade particular e os fones de ouvido nas ruas criavam um casulo impedindo a interação com outros seres humanos.


Os trabalhos eram um capítulo a parte.

Baias dividas, responsabilidades bem definidas e claro, tudo formalizado por e-mail à espera do primeiro deslize para apontar o dedo.

Ainda contávamos com projetos colaborativos, trabalhos voluntários e espaços públicos que promoviam interações à la ágoras gregas, mas infelizmente eram pequenas iniciativas que não passaram de modismos.

As maiores companhias do mundo ainda careciam de personalidade e alma. Os valores estavam bem apresentados na entrada dos escritórios, mas poucos se importavam com as pessoas.

Quem me dera se os empresários tivessem se inspirado mais em Ben e Jerrys. Ou em pessoas que pouco tinham a ver com empresas, mas que conseguiam de alguma forma influenciar muitos que estavam ao seu redor.

E o resultado desse cenário se traduziu no mundo em que vivemos hoje.

As formas de entretenimento e arte ficaram relegadas a poucos. Temos alguns mecenas poderosos que pagam diretamente pela produção de conteúdo tão personalizado que pode ser apreciado apenas pelo seu receptor.

E acreditem se quiser: Apesar de não termos mais museus, obras continuam sendo roubadas e revendidas para o seu único dono.

Também temos poucos artistas, já que a demanda por obras está consideravelmente menor.

A máxima de entrega de conteúdo por anunciantes permanece verdadeira, mas hoje em dia, a base de clientes é tão segmentada que cada consumidor recebe uma mensagem específica.

Alguns fornecedores tornaram-se tão eficientes que cortaram o homem do meio (as marcas) e agora falam diretamente com cada consumidor.

A televisão, o rádio e os jornais não existem mais. Hoje, cada um recebe conteúdo de interesse vindo de sua rede de contatos e de seus feeds.

Restaurantes? Desapareceram. Depois de tantos anos de avanços científicos, descobrimos que cada ser humano precisa de uma dieta própria.

O automóvel já matou mais seres humanos do que todas as grandes guerras somadas e ainda assim, continua sendo a principal forma de locomoção

É estranho passar esse depoimento por vídeo para vocês no futuro, mas essa foi um das poucas coisas que permanece imutável na nossa sociedade: A combinação de voz com fotos ainda prossegue como uma das formas mais potentes de comunicação.

Deixo esse documento audiovisual escondido na esperança de que alguém possa ouvir minhas palavras.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011