segunda-feira, 30 de agosto de 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vida de Office Boy

Vai que faz bem
Centrado nas curvas do compasso
Concentro mais a cada passo
Ate ela se por.

Depois do ato involuntário premeditado
Certifico-me se não ha outros olheiros
Tiro certeiro


Agora vem
O olhar ora respeitoso
ora periculoso
não vai te perder de vista.

Vem desfilando, cavalgando
Acanhada, assanhada
Não importa, contato que venha.

E ainda me concede que eu a olhe.


Poderia ficar mais tempo só olhando, olhando.
Mas o próprio tempo me abre mais o olho
Me aproxima do prazo.
Me distancia da prosa.

Desculpa parar assim tão repentino,
É que eu realmente tenho que trabalhar

Vou deixar o acaso calculado
proporcionar o próximo olhar.
Prometo não desapontar

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hoje tem

Quando a seleção entra em campo, os adversários tremem.

A partir do momento em que o nosso primeiro jogador pisa no gramado, eles sabem que as suas chances diminuíram.

A seleção impõe respeito. Ela joga com confiança, afinal, nascemos para isso.

Cada jogador tem sua técnica, sua qualidade, sua maneira de jogar.

Há jogadores que arriscam a finalização a todo o momento. Há jogadores que preferem trabalhar as jogadas com mais calma, rodando a bola antes de fazer o arremate certeiro. Há jogadores que partem para a jogada individual, levam os adversários na ginga, no drible, na malícia.

Há ainda as triangulações, tabelas, overlaps, lançamentos, enfiadas... Deixar o companheiro na cara do gol e ver a rede balançar é tão bom quanto. E na seleção o que não faltam são bons garçons, e mesmo aqueles que não marcam gols se empenham em servir.

O que vale é bola na rede, seja um golaço do meio campo, seja um bate-rebate na área.

Como qualquer equipe, temos um líder, um capitão. O capitão leva o time pra frente, ele joga com responsabilidade, chama o jogo pra si e joga bem. Ele tem a confiança para avançar sobre os adversários mais difíceis, fazendo belos gols praticamente em todo jogo.

O seu futebol é leve, faz o jogo parecer mais fácil para os companheiros.

E de fato é, não existe segredo. Todos sabem fazer gol.

A soberania que a seleção alcançou dentro de campo é fruto deste esforço e entrosamento de excelentes jogadores, jovens com experiência, com técnica e raça, força e sutileza.

Assim, quando entramos em campo, podemos bradar com convicção: hoje tem.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Obrigações


É importante que você faça a ata para que os envolvidos entendam suas obrigações.
Não se esqueça de revisar o contrato para que tudo saia nos conformes.
Agradecerei se você enviar um e-mail para a gráfica.

Ficarei agradecido se você criar um folder que esteja alinhado com a nossa comunicação.
Importo-me que você estabeleça um fluxo produtivo de processos.
Inesqueça-se de almoçar com os colegas para que não pareça antisocial.

É não esquecível de que precisamos enviar um brief para que cumpramos nosso prazo.
Agradeço se você validar o conteúdo para que o cliente possa aprovar.
Me importarei que você publique a peça para que os esforços de comunicação não sejam dissipados.

Mas se algum dia você não se importar, se esquecer ou não merecer o agradecimento pela ata, contrato, e-mail, folder, fluxo, almoço, brief, conteúdo ou peça, existe uma grande chance de você ser mais feliz.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eu Sou


Eu sou o preto que você matou
Eu sou o gato que você cruzou
Agua passada que você tomou
Eu sou a mesa que você virou

Eu sou o homem que você julgou
Eu sou a planta que você cortou
E a maconha que você fumou
Eu sou a mina que você não colou

Eu sou a terra que você pisou
E o dinheiro que você gastou
Eu sou a foto que você não tirou
Sou a mulher que você violou

Eu sou o escravo que voce amarrou
Eu sou a luz que voce tapou
O animal que voce nao soltou
Eu sou o e-mail que você draftou

Eu sou o carro que você fechou
Eu sou a cachaça que você virou
E o Studio que você não adentrou
Eu sou o gol que você tomou

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sopa rala

Personagens idiossincráticos, tipos excêntricos e um toque de surrealismo faziam-no crer que poderia estar, naquele momento, fazendo parte deste conto. Tal fato se agravou quando percebeu que fora designado a ele o papel principal do manuscrito e que, portanto, não poderia observar a cena com meros olhos de figurante.

Conseguindo desgarrar-se ligeiramente de súbito pensamento, viu-se diante de aproximadamente 5 pessoas, cujas expectativas, naquele momento, eram de que ele falasse algo, ao menos um singelo gesto com a cabeça para que alguém iniciasse, pois, a sessão. Afinal, aparentemente, fora ele quem convocara os que ali estavam.

Lançou mão de uma visão panorâmica àquela plateia, encheu o peito de ar como que se fizesse isso por obrigação e, ao desferir o inaugural "boa noite a todos", foi surpreendido por um hiperbólico toque de celular que desconcertou até mesmo o roteirista daquela cena, já que todos ficaram mudos, sem ação, esperando que o grafite fosse recolocado no papel, dando continuidade àquilo tudo.

O personagem principal se indagava sobre a possibilidade do acontecimento não passar de uma surpresa benéfica a ele, especialmente criada para inspirá-lo futuramente. Não, improvável. Tinha como grande desafio entender o que havia na cabeça do Criador daquele espetáculo: o que estava, de fato, fazendo ali? Qual era o intuito daquela reunião? Como chegariam a uma conclusão?

As demais pessoas pareciam ossos secos esperando pelo Sopro da Vida. Requintes trágicos de uma cena cômica.

O homossexual trejeitado sentado à direita parecia encantado. Sua mãe, viúva há 24 anos, dava indícios de estar enfrentando uma brava enxaqueca, tão desagradáveis eram suas feições. À frente, uma mulher que mais parecia um orangotango desatou a falar, dando indícios de que estavam todos ali para reclamar de algo, para sabatiná-lo, questioná-lo do porquê e a fórmula de sua felicidade perene. Sem citar a menina que estudava fora do condado e tinha em vez de olhos buracos negros. Tão negros quanto o pensamento do pseudo psicólogo ávido por recitar estrofes da "lei do psiu", deixando Camões e o "Os Lusíadas" a léguas náuticas de distância.

Deixou com que a espontaneidade do escritor ditasse suas atitudes e conduziu a reunião como estava acostumado a fazer. Aquilo, de fato, seria benéfico aos dois. Revelaram uns aos outros - desnecessariamente - diversas intimidades, acharam pontos em comum, desabafaram, enfim, colocaram o menu à mesa, cozinharam a conversa no fogo baixo e se alimentaram de uma sopa rala feita de imbecilidade, clemência e compaixão.

O sketch durou 40 minutos e 57 linhas. Ao mesmo tempo, ambos, escritor e personagem, iam embora satisfeitos...

domingo, 15 de agosto de 2010

o agente

o agente
juntou o artigo
ao substantivo
era abstrato
virou concreto
mas saiu do ritmo
e perdeu o tom
era plural
ficou singular
e a gente
cada um no seu lugar.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

vizinhança

Já passa de meia noite e eles estão voltando para casa. O dia foi corrido e apenas alguns minutos os separam do aconchego de seus lares.

Eles são vizinhos, mas não se conhecem. Quiçá certa vez se viram na banca da pracinha, ou quem sabe até já se esbarraram comprando frutas na feira. Não, ele a reconheceria.

Ele a vê de longe saindo de seu carro, seus cabelos longos balançam à leve brisa da noite. Uma bela blusa estampada realça o dourado de sua pele macia.

Em um ambiente onde os tons de cinza prevalecem, o vermelho de seu carro estacionado ilumina a mulher como um holofote, ofuscando todo o resto.

Ele percorreu quase 50 metros e sequer olhou para a rua.

Ela aguarda sua passagem para poder atravessar em direção a seu prédio.

Quando ele se aproxima ela o vê.

A primeira troca de olhares acontece.

Ele passa e ela atravessa.

Enquanto encosta com o carro na garagem do prédio, ele observa, quase hipnotizado, a mulher entrando.

Quando o portão se abre, acontece a segunda troca de olhares. Desta vez mais intensa e por mais tempo, despertando nele um interesse ainda maior.

Tudo o que quer é vê-la novamente. Ele precisa conhecê-la.

Quando estaciona o carro, já começa a arquitetar maneiras de como chegar até ela.

O primeiro passo é escrever este texto...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Desmedida

Projeto o meu equilíbrio em ti para fugir do trânsito dos meus desajustes. Não soa bem embora traduza minha postura diante da névoa que dissipam teus olhos. O meu caminho, estreito, feito para meus passos apenas, devo cumprir, claro! Me inquieta não querer fazê-lo só. Natureza incômoda, desastrada. Dentro de propósitos pretensamente sólidos anda a vida. Disciplina, bom senso, estoicismo. Caem um após o outro. E é nessa desmedida que te desejo. Amplitude ociosa que as palavras de nosso poeta predileto já não fazem por bem encerrar. Meu discurso já não tem cadência, nem rima, nem acento. Ofega. Engasga. Mas não cessa, ainda que não saiba onde tudo vai parar. Sequer gostaria de pensar que se vais e voltas discretamente, descrente, já não tendas mais a amar.


Ora presente trazer-te para perto,

Vez ausente sentir-te longe.

E cada vez mais querer o horizonte,

Que a cada passo dado se afasta dois ou mais.