segunda-feira, 29 de março de 2010

Nota Escatológica Promissória



Pagarei a promessa, por esta via de NOTA PROMISSÓRIA, à Tulipa Entertainment Buildings, CNPJ 45.90.989/0001-05, doravante designada CONTRATANTE, a tarefa de limpar e repor os produtos de limpeza em moeda corrente deste país, pagável na praça de São Paulo – SP, de acordo com os termos e condições do Contrato de Limpeza de Cômodos Sujos, eliminando das instalações da CONTRATANTE toda e qualquer forma de excremento expelido por irresponsabilidade ocasionada pelo consumo excessivo de álcool, assinado nesta data pelas partes, o qual obrigo-me à cumprir a priori incontinenti ma non tropo, dezotcho anni fanni.


São Paulo, 29 de março de 2010.


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Cortes Suínos do Brasil S/A.
C.N.P.J nº 04.423.161/0001-40



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sexta-feira, 26 de março de 2010

Projeto Nautilus

Havia chegado, enfim, o momento pelo qual tanto esperara. A inquietude de sua mente se traduzia em transpiração demasiada, pensamentos soterrados uns pelos outros, palavras embaralhadas como letras de uma sopa letrada, cansaço; barba, cabelo e bigode por fazer... Precisava justificar sua recém contratação, mas, sobretudo, precisava provar a si mesmo que era capaz.
Está tenso e sabe que isso pode o atrapalhar. Olha para sala, para as cadeiras, para as pessoas sentadas nelas, para as canetas, para os cadernos; um furacão de pensamentos o atormenta; transpira... Tem a clara sensação de que caso houvesse uma briga entre seu intelecto e seu físico, este último sairia completamente derrotado. A sala já se encontra muito bem povoada; ali estão o Presidente e toda sua equipe. O grão-executivo, aliás, havia começado sua carreira nessa mesma empresa como entregador de malotes, passando pelo cargo de estagiário do departamento fiscal, chefe do suporte a vendas, supervisor de seção, gerente da tesouraria, diretor financeiro até chegar, aos 60 anos, no último estágio da evolução corporativa. Ascensão lenta e constante em uma editora de livros didáticos e acadêmicos, responsável pela impressão de volumes encadernados e transportáveis que permeavam todo período de educação de uma pessoa: 1º, 2º e 3º graus.
Precisa começar sua apresentação. Verifica o aparelho das transparências; tudo ok. Dado o calibre dos executivos que ali estão, é imperativo cumprir o tempo de duração pré-estabelecido para a junta. Posiciona-se frente a todos. Sua boca está seca. Suas pernas chacoalham involuntariamente. Sente que é hora de começar. Após se apresentar, começa:
- Boa tarde. Primeiramente, gostaria de agradecer a presença de todos nessa minha primeira apresentação de projeto.

Para; respira fundo. Sente-se bem, “finalizou a primeira etapa da apresentação”. Segue apresentando um longo cenário econômico do país, números, dados, censos demográficos.... E segue:

- Nesta sala, creio que todos entendem o conceito de segmentação de mercado e, indo além, o conceito de nicho de mercado...

Espera alguma reação dos presentes. Nada acontece. Continua:

- Nesta sala, acredito que todos devem saber o quão interessante é desfrutar de cada fase da vida. A infância e sua ingenuidade, a adolescência e sua rebeldia, a juventude e seus excessos, a idade adulta e sua maturidade... Maturidade essa que nos traz o maior presente de todos: a paternidade. Quantos de vocês têm filhos?

Alguns poucos levantam a mão. Sentem uma mistura de curiosidade com desprezo...

- Nesta sala, quantos se lembram da primeira vez que ouviram seus filhos grunhir alguma palavra? “Mamá, papá, bobô, totô”. Tenta imitar uma criança, péssimo momento.

Três mulheres se manifestam dizendo “eu lembro”. Ao fundo, vê-se um braço procurando olhos para mostrar os ponteiros de um relógio de fabricação pós guerra.

- Como se lembram, foi extremamente gratificante escutar, saindo de nossos rebentos, tais barulhos. E é justamente calcado nessa gratificação que vos apresento o novo conceito em alfabetização infantil. Trata-se de um método que permite que você alfabetize seu filho! Trata-se de um método que ensina você a ensinar seu filho a ler e a escrever. Podem imaginar o quão gratificante isso seria? Ensinar seu filho a redigir? Ensinar seu filho a ler um poeminha pueril? Abrir as portas do conhecimento para que seu filho o explore da melhor maneira possível?

E, esquecendo a afobação do começo de seu discurso, enche-se de confiança e continua:

- Porém, nos dias de hoje, quem são as pessoas que possuem o tempo necessário para a alfabetização de uma criança? Eis a pergunta que todos aqui devem estar de fazendo.

O presidente escutava, ou, ao menos, fingia.

- Retomando o que há pouco, direcionaremos esse novo produto a um nicho de mercado que possui alto poder aquisitivo, um nicho que só não é maior pelo tema da alfabetização de seus filhos: são os velejadores solitários!

Alguém da plateia, por mais que tentasse, não contém um riso, que escapa e atinge os ouvidos do interlocutor, que não se deixa abater e continua:

- Os velejadores solitários são pessoas de espírito livre. Velejam por prazer. É como se fossem nômades com moradia fixa. Contraditório, mas real. Normalmente, encantam suas mulheres com seus espíritos aventureiros e acabam por convencê-las a desbravar o mundo em sua companhia. Com a união, sem tardar, aparece o primeiro filho da “nova família” e, com ele, o maior iceberg já visto por esses navegares: como conciliar a paixão inexorável de velejar com a educação do novo filho? A resposta surge com esse projeto que vos apresento agora...

A apresentação continua por longos minutos, com mais uma série de explanações, entusiasmos, perguntas aos que estão presentes, minúcias do projeto, idéias “inovadoras”, etc. Até que, então, nosso jovem chega ao fim de seu discurso. Sente que teve um bom desempenho. E abre para perguntas:

- Alguém tem alguma dúvida, sugestão, crítica a fazer?

Todos parecem perplexos. Faltam palavras ao presidente. A reunião termina. Ninguém se manifesta. Nem ao mesmo sua mente.

Falava sobre velocidade da luz para pessoas que nunca haviam passado de 200km/h. E estava certo de que somente por meio da velocidade da luz chegaria a lugares desconhecidos.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Astro de Cinema

Intenso
Imenso

Veio do Espaço
para ocupar muito espaço

De carona no Halley
De forma meteórica
Chega um astro.

A cratera não para de crescer
e a Terra o descobre.
Descobre uma galáxia distante, diferente,
ou talvez, o Ser mais semelhante

Ele por sua vez
Descobre novos planetas
Seres não identificados.
Não tem satélite rastreado.


Os buracos negros dessa viagem
não o tiram de órbita.
Energia Cósmica

Estrela que brilha
Em toda noite se vê
Estrela crescente
Anos luz a frente.

Neymar do céu.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Primeira Poética

Fazer dos versos frios

Livre construção da espontaneidade

E manter vivos no espírito

Cândidos e Andrades?


Inspirar-se em páginas mestras

Clássicas letras da antiguidade

Ou correr em veias abertas

Gritos de silêncio e suspiros de saudades?


Aplicar a forma fria

Em prejuízo da humanidade

É semear a estética vadia

Em serenos campos de castidade.


Além de esquemas de rima,

Figuras de estilo e linguagem,

Antes uma poética ingênua

Em toda sua malandragem!


Ao dizer Dionísio bêbado

Ser do estóico Apolo

A contenção bobagem


Sorriu um baiano Gregório

Versou um ferino Bocage

Teceu sem morais um Vinícius

A um velho Jobim homenagem


E como Apolo levantasse

O Baco riso feneceu

Esquecera dos sonetos

De Glauceste e de Dirceu


E como marcante fosse

Não se deixara olvidar

Dos épicos decassílabos

De um lírico Luiz Vaz


Diga agora, poeta, para onde que tu vais?

Ser racional, objetivo, cínico e mordaz?

Introspectivo incorrigível de sensibilidade perspicaz?

Sujar com o rubro da guerra os alvos tempos de paz?


Não importa, poeta, já que sabes o que jaz

Além da existência pelos versos, impossíveis ou concretos,

Líricos ou épicos, banais ou imortais.

Se é com eles que lutas, isso poeta te faz!

terça-feira, 16 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

Soneto da União


Darcy sonhou e não o fez sozinho
Dos elementos ricos de tenra índole,
Dos corações humildes e das mentes livres
A união apontou como caminho

Olha firme teu irmão nos olhos
Enlaça o corpo largo em teus braços
Vês a semelhança além dos traços?
Sentes a alma viva pelos poros?

Deixa cair todos os rótulos!
E que isso não se dê passivamente
É o coração humilde que liberta a mente!

Lembra-te menino e inocente
Temias a tua própria gente?
Não te deixes cegar por rasos modos.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Fragmentos...(baseado em fatos reais)

Homenagem a amizade e as belas pérolas que ela nos proporciona:

(1) - Velho.. se liga como o corpo humano é top. Ontem quando eu fui lavar a cara, eu quase caí no chão de tontura e eu achava que isso era por perder muito sangue.

(1) - Daí eu falei com o médico. Ele disse que quando o olho ve sangue, ele envia um sinal pro coração pra parar de bombear sangue pq ta dando merda. O coração bombeia mais devagar e o sangue demora pra chegar no cerebro. Dái rola a tontura.. dá hora não?


(2) - caralho, mas qq rolou? vc que se fodeu? onde vc bateu?


(1) - Eu caí de cara no chão sem nenhum apoio. Mas acabou sendo suave. Tomei 8 pontos no queixo, mas não pegou nada em relação a boca, dente, nariz e essas coisas que poderiam vir a prejudicar a face do Dorfinho deixando milhares de minas desoladas...


(2) - Caralho Fever, que merda hein?Ainda bem que não pegou nada sério.Tá vendo que eu ñ dou essa raça quando não vale nada... é exclusivamente por causa disso.Coisa escrota né...


(3) -
Depois de driblar e perder a bola, na tentativa de amenizar a cagada e segurar o contra-ataque, o excesso de vontade ocasionou a lesão facial, em alta velocidade.

(3) - Se ele não tivesse ficado deitado de cara no chão sem se mexer, eu teria dado mais risada.

(2) - hahahahahahahahahahahaha...pai santo...


Só rindo mesmo...

terça-feira, 9 de março de 2010

Contra

Desperto em um horário em que não gostaria de despertar.
É como se eu ainda não houvesse sido adestrado por mim mesmo
Adoto hábitos de higiene que não gostaria de adotar.
É como se a minha aparência fosse intérprete do meu intelecto
Trajo roupas que não gostaria de trajar.
É como se elas conseguissem falar por mim
Tomo meios de transporte que não gostaria de tomar. Eles me levam aonde eu não gostaria de ir.
É como se eu possuísse mais coragem para enfrentar o futuro do que o presente
Cuspo vocábulos que não gostaria de cuspir.
É como se isso me engrandecesse

Egoísta, regresso à minha casa na hora em que não gostaria de regressar.
É como se estar atrasado fosse tão habitual quanto piscar os olhos
Desnudo mulheres que não gostaria de desnuda
r.
É como se a solitude fosse deveras mais atraente

Moro e morro onde não gostaria de viver.

Desperto, trajo, tomo, vou, cuspo, regresso, desnudo e morro.

Sou quem eu não gostaria de ser.
Gostaria poder...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Eloquência do silêncio e saudades

Atmosfera lânguida. Os sentidos à flor da pele imploram

Ao paladar amuado o prazer sonoro.

O acalanto das sílabas moles e versos fluidos mal preenchem

O vazio etéreo do ambiente noir e logo se traduzem

No toque suave das mãos.

Silêncio…


Tão caro à poética, à rítmica e ao encontro dos olhares.

Como se o simples bater de cinzas do cigarro revelasse

Os olhos embebidos em enigma, os lábios carnudos e sedentos,

A pele ansiosa pelo tato e o coração cheio de saudades…

Palavras…


Quando necessárias não bastam e quando bastam

Deixam muito a desejar.

Tropeço nas palavras, oculto os verdadeiros significados,

Dissimulo intenções quase sempre muito naturais

Como se o cruzamento dos encontros não possuisse esquinas

Como se todo o barulho de todas as esquinas do mundo

Se pudesse traduzir em

Silêncio…


Cuja sublime eloquência em um átimo revela

A inquietude do desejo no encontro das mãos,

A chave do enigma no toque dos olhos,

A sede do tato na satisfação dos lábios.

E as saudades que em mim deixarás…

quarta-feira, 3 de março de 2010

Burp!

Existem algumas coisas na vida que são exclusividades do sexo masculino. Pequenas coisas, pequenos atos que, entre nós, são absolutamente normais, inerentes à personalidade de todos os homens.

Entretanto estes mesmos pequenos atos, quando estamos fora de nossos clãs, longe do absolutismo de nossa roda de amizades ou de nossa família, quando na presença de um amigo do seu avô, um colega de trabalho menos próximo, ou uma mulher (e pode ser qualquer uma), não são praticados por nós. Existe uma lei social que não autoriza tão naturais gestos.

Gestos que nos unem. Nos unem como num consentimento entre todos os machos. Nos unem pois nos damos a liberdade de fazer o que bem entendermos entre nós. Se no dia a dia, o convívio social nos impede, encontramos numa roda de amigos o porto seguro para liberar estes reprimidos atos inconscientes.

Não é falta de educação, muito pelo contrário. Durante nossa formação, desde meninos fomos treinados a controlar estes impulsos físicos (quiçá fisiológicos). Cansamos de ouvir esporro, levar tapas e ter nossas bocas ameaçadas por água e sabão. Apesar de não parecer, já sabíamos como o sistema funcionava, mas não necessariamente concordávamos com ele.

E é por isso que quando o bando se reúne, e o espírito coletivo fala mais alto, pronunciamos mais palavrões, coçamos o saco, cuspimos na rua e cutucamos o nariz sem a menor preocupação. Andamos de cueca, comemos comida do chão, bebemos mais e fazemos mais besteiras. Contudo dentre estas e muitas outras modalidades, existe algo que merece destaque: o Arroto.

Ah o Arroto. Arroto com “A” maiúsculo! O Arroto é tão relevante no dia a dia masculino que se torna um novo personagem nestas ocasiões. É como se a entidade Arroto estivesse presente de alguma maneira no ambiente. De vez em quando ele aparece, do meio do nada, e toma a atenção dos presentes , principalmente se o Arroto estava comprimido, querendo sair desde o almoço na casa da sua namorada.

Não importa de onde venha, o Arroto sempre marca sua presença com mais ou menos intensidade. Mesmo que não se esboce nenhuma reação. Você sabe que ele deu as caras, que passou por ali num piscar de olhos. E todos os outros perceberam da mesma forma. Seja como um estopim para gargalhadas, ou precedendo um silêncio estranho, o Arroto carimbou o cartão de ponto mais uma vez.

E porque o Arroto, tão presente em nossas vidas, é tão discriminado no convívio social? O Arroto faz bem. O Arroto te faz sentir alívio de algo que você nem percebia que estava te incomodando. Como uma pedra no sapato, só depois de uma hora com ela debaixo do dedinho, você percebe que está incomodado há 59 minutos.

Dizem que na China e na Índia, as pessoas arrotam em público, sem discriminação e sem olhares feios. Duas culturas milenares, tão ligadas ao bem-estar e ao equilíbrio mental. Locais de origem do Budismo, Confucionismo, Taoísmo e tantas outras religiões.

Talvez esta seja a maior sabedoria que os ancestrais chineses nos deixaram. O tipo de sabedoria que não se encontra em um biscoito da sorte.

Às vezes as coisas andam estranhas. Às vêzes, você não está 100%, mas não sabe explicar o que é. Às vezes, coloca a culpa no coringão ou no seu chefe. Às vezes, você dá uma volta sozinho ou assiste um filme pra relaxar.

Às vezes, você só precisa arrotar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Lavoisier, não me enganes tu...

Eu sei que deveria. Eu deveria simplesmente sair escrevendo... mas sair escrevendo de onde? Do banheiro? Da sala? Do elevador? Se eu saio escrevendo, quem vai sair lendo, assim, de graça, sem motivo? Eu poderia sair escrevendo, mas em uma bola de papel amassado, logo, logo, o texto fatalmente se transformaria. Aliás, pensando bem, o "tudo", além de sempre virar bosta, pode se transformar em "qualquer coisa". Se você imaginar um celular (apenas para citar algum aparelho desprezível criado pelos humanos), é perfeitamente possível que, ao menos em sua cabeça, esse celular comece a se transformar em ninguém menos que Barack Obama... Sim, nele mesmo... Com todo seu ar magrelo de boneco pernambucano carnavalesco. Ou então, apenas para citar um outro exemplo, é possível transformar, em frações de segundo, um cândido e interrogático cisne em um colorido e quadrático cubo mágico... Acreditem: essa capacidade é notória, já que essas fugazes transformações se opõem à maxima de Lavoisier, cuja sentença disparada aos incautos franceses era: na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Ó sábio gênio; balela. BALELA! Isso não passa de acalanto para acalmar Jacobino. Nesse caos metamorfósico em que vivemos, tudo se cria, tudo se perde, tudo se tranforma! Tudo.

Aquecimento Global

Eu, capitão do mato
Declaro alforriado
esse mascavo

Que sai de seu canavial
Para encontrar outras vias
Desbravar novos quilombos
Despir o velho continente

Marrom quente
Que vai quebrar o gelo com sua canoa
Sorrir para sereia
Mesmo se perder a cabeça

Não esqueça
Aqueça.