quinta-feira, 18 de março de 2010

Primeira Poética

Fazer dos versos frios

Livre construção da espontaneidade

E manter vivos no espírito

Cândidos e Andrades?


Inspirar-se em páginas mestras

Clássicas letras da antiguidade

Ou correr em veias abertas

Gritos de silêncio e suspiros de saudades?


Aplicar a forma fria

Em prejuízo da humanidade

É semear a estética vadia

Em serenos campos de castidade.


Além de esquemas de rima,

Figuras de estilo e linguagem,

Antes uma poética ingênua

Em toda sua malandragem!


Ao dizer Dionísio bêbado

Ser do estóico Apolo

A contenção bobagem


Sorriu um baiano Gregório

Versou um ferino Bocage

Teceu sem morais um Vinícius

A um velho Jobim homenagem


E como Apolo levantasse

O Baco riso feneceu

Esquecera dos sonetos

De Glauceste e de Dirceu


E como marcante fosse

Não se deixara olvidar

Dos épicos decassílabos

De um lírico Luiz Vaz


Diga agora, poeta, para onde que tu vais?

Ser racional, objetivo, cínico e mordaz?

Introspectivo incorrigível de sensibilidade perspicaz?

Sujar com o rubro da guerra os alvos tempos de paz?


Não importa, poeta, já que sabes o que jaz

Além da existência pelos versos, impossíveis ou concretos,

Líricos ou épicos, banais ou imortais.

Se é com eles que lutas, isso poeta te faz!

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