sexta-feira, 23 de julho de 2010

Relatos de uma sexta nada particular.



08:30. Snooze. 08:45.
Independente do local ou data, todas as sextas-feiras começam com o snooze. Começam, porque se por convenção o dia começa a meia-noite, na prática ele começa na hora de levantar.

E o levantar é mais gostoso na sexta-feira. Se por um lado o cansaço é grande assim como a escuridão das olheiras, por outro têm-se a expectativa de se afastar por 48 horas das tarefas que te ocupam por 7200 minutos.

A roupa é mais confortável. O café da manhã é corrido e o metro parece contar com mais gostosas do que o normal.

Promotores na rua. Cilada. As táticas estão mais inovadoras. As donzelas dotadas de grande beleza automaticamente me fazem diminuir o passo e desferem uma pergunta desafiadora: "Você se preocupa com o meio ambiente?".

Golpe baixo.

Respondo "não" ironicamente e sigo o meu ritmo. No caminho ainda esbarro em promotores da 89fm.

Coisa estranha.

Devido a minha irritação, por um momento vejo a 89 e o Greenpeace como a mesma coisa. Ong ou rádio, ambas estão fazendo barulho devagar em um instante em que eu queria o silêncio rápido.

Trabalho...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

trégua

mais um trago,
eu me entrego
e me estrago.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

(letra)

(solta)
(livra)
(me)
(tira)
(daqui)
(permite)
(que)
(saia)
(estou)
(presa)
(me)
(sinto)
(presa)
(acuada)
(quero)
(ser)
(a)
(atenção)
(trata)
(me)
(com)
(afeição)
(quero)
(ser)
(atriz)
(principal)
(quero)
(voar)
(solta)
(livra)
(me)
(tira)
(daqui)
Quero poder correr livremente sobre suas linhas, sem barreiras que me limitem.

O funcionário do hostel...

...apareceu e me disse para ir embora porque passava, naquela latitude, uma onda. "Uma pororoca ou uma onda de assaltos?" perguntei despretensiosamente. Preocupado com aquela situação improvável, abaixei a cabeça para procurar meus documentos mais importantes. Ao voltar com ela ao mesmo patamar de outrora, deparei-me com um atendente que me olhava e me passava a sensação de ser apenas um corpo, nada mais que um corpo, ausente de consciência, ausente de alma.

Fixou o olhar em mim, foi ficando cada vez mais pálido e, numa fração de segundos, explodiu como uma bexiga e liberou uma espécie de fumaça que emulava um caudaloso rio tupiniquim. Daquele momento em diante, comecei a travar uma espécie de batalha ianque com a minha mente, uma batalha em que não há, ao certo, um vencedor, um perdedor; há, em verdade, um lado dominador que tenta, sem sucesso, impor sua realidade sobre o lado a ser dominado. Trocando em miúdos, tentava me centrar e racionalizar sobre o que acabara de ver: estou ficando louco? será que acabo de me deparar com algum ser de outro planeta?

Mirava a televisão localizada sobre a cabeça do atendente, via uma tela extremamente brilhante, uma tela em que se podia facilmente distinguir o vermelho, o verde e o azul. Diferentemente das telas normais, tais cores não se misturavam, formando uma espécie de efeito três-de em um impresso quando este não é observado sob a ótica dos mirabolantes óculos. Mais ao lado, uma porta semiaberta revelava um quarto de paredes verdes, parcialmente iluminado pela luz do sol que entrava de alguma janela não visível na cena.

A fumaça formada pela explosão do atendente ainda permanecia no ar... Eu tinha a sensação de estar ali havia muito tempo. Tudo parecia tão real...
Não pude suportar tudo aquilo e fui buscar abrigo no mundo, na cidade, na rua defronte àquele sobrado.... Estava livre, graças a Deus!

Nos dias subsequentes ao fatídico, mais tranqüilo, tornei a manusear a vida como se nada aquilo tivesse acontecido...

Pensando bem, aquele atendente era de fato um alienígena, era natural de um planeta situado a milhares de anos luz da terra, no qual eu, tu eles, todas as pessoas, sejam elas de primeira, segunda ou terceira nuança, do singular ou plural, estávamos naquele momento.