sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Blananismo

Blananismo

por BLÃ
"saindo do metrô São Bento após um dilúvio, dois homens vendem capas de chuva. O primeiro diz:
-Olha a capa! 2 reais!
o segundo diz:
-2, nada! A minha é 1 real!
novamente o primeiro, um tanto revoltado, manda:
-É? E o cú, ta valendo quanto?!"


por Yara Oliveira

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Último Apelido

Que me desintegre a Rosa de Hiroshima antes mesmo que o sistema nervoso consiga entregar a mensagem em meu peito.

Que, em pleno ground zero, seu globo de plasma me varra para outras latitudes; Nagasaki, Nagoia, Osaka...

Que me desintegre a Rosa de Hiroshima, fazendo-me farelo de carbono num nanosegundo.

Sirva-me dessa colher de urânio, mulher. Não quero mais existir. Queime-me em sua fogueira atômica.

Que as porções coloridas do espectro de sua explosão sirvam para deixar sua fotografia ainda mais estarrecedora.

Que seus raios gama penetrem rapidamente em meus cromossomos, tornando-me, num milisegundo, em uma aberração.

Que suas reações de fissão me tragam o alvorecer da morte num piscar de olhos verdes.
E que aquele início de agosto de erradas decisões não mais apareça nos anais da história.


Exploda com todos seus recursos, Rosa de Hiroshima.
Exploda, mas não se esqueça de Pearl Harbor e seus silenciosos aviões.
Exploda e saiba que toda bomba, ao explodir, liberta luz.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O cumprimento teve um abraço sincero. Minha vontade era ter prolongado tal nobre ato, queria mesmo ter soltado o mais aflito dos suspiros em teu ombro e ter acalmado, assim, minha pulsação. Mas tudo não passou mesmo de uma ato solene, de solidão.

As palavras foram poucas, os olhares quase marcados, mas cada vez que ia de encontro ao mais saudoso globo ocular meu mundo te revelava.

Me corrigiu como de costume, mas dessa vez nem me expliquei, suspirei manso e um pouco tristonho e ao fim, concordei.

Quis rir das bobagens que eu insisto em dizer; e riu, mas nem o teu sorriso me deixava contente.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Futuro do Pretérito

Entendo tua agonia, futuro do pretérito.
Sempre acompanhado de ti um "se" condicional insiste em te trancafiar na escura cela das hipóteses.

Se tu fosses, nós seríamos...
Se tu quisesses, nós poderíamos...
Se tu sorrisses, nós formaríamos...

Ah, futuro do pretérito, tu nunca passastes de um tempo natimorto, triste, sedento pela chave que te libertaria da dúvida. Poderíamos, enfim, unir nossas forças temporais, fazer acontecer.
Entendo tua ira, enclausurado tempo verbal, tua solidão e teu enojamento pelo incerto, mas saibas que pouco posso fazer por ti; sou o agora, o hoje, o presente: eu faço, eu sou, eu vivo, eu calo.

Poderíamos ser como causa e consequência, harmoniosos, se não fosses tu o futuro do pretérito, cuja existência nunca se dará sem que a condição permita.
Que fique claro, pois, que não passas de um futuro do passado.
Ultrapassado.
Algo que poderia ser, mas não foi.